O SER DE DEUS.

O termo teontologia é uma designação mais ou menos moderna que apresenta o ponto de partida lógico no estudo da Teologia Sistemática, por ser, como é, o seu tema principal, a saber, uma investigação científica daquilo que pode ser conhecido sobre a existência das Pessoas e das características do Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito Santo – totalmente à parte das obras Deles[1]
Visto que este assunto é por demais vasto, é sábio, como propósito de nosso Curso Básico Avançado  de Teologia, considerar apenas o Ser de Deus; falando de Sua Existência; Cognoscibilidade e Incompreensibilidade; Caráter com os Nomes e Atributos; e a Santíssima Trindade. Uma investigação sobre a verdade concernente a Segunda e Terceira Pessoas, deverá ser feita sob duas divisões principais: Cristologia (Doutrina de Cristo) e Pneumagiologia (Doutrina do Espírito Santo).

I. A Existência de Deus.

Todas as pessoas de qualquer lugar têm uma profunda intuição íntima de que Deus existe, de que são criaturas de Deus e de que Ele é seu Criador. Paulo diz que mesmo os gentios descrentes tinham “conhecimento de Deus”, mas não o honravam como Deus nem Lhe eram gratos (Rm 1.21).
Além da consciência íntima de Deus, que dá claro testemunho do fato de que Ele existe, encontramos claras evidências da Sua existência nas Escrituras e na natureza.

01. O Pressuposto Teológico:
O grande pressuposto da Teologia é a existência de Deus. Não há Teologia sem a existência de Deus. Deus é o ponto de partida da reflexão teológica. A Sagrada Escritura simplesmente aceita este fato e afirma: “... é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que É galardoador dos que O buscam” (Hb 11.6).
A Bíblia não discute a existência de Deus; começa por afirmar simplesmente que Ele existe e que é a causa de todas as coisas que existem no mundo, inclusive o próprio mundo: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1); “Eu Sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há Deus” (Is 45.5; Cf. Rm 11.36

02. Argumentos Naturalistas Para a Existência de Deus.
A maior parte das provas tradicionais da existência de Deus pode ser classificada em quatro tipos importantes de argumento clássicos:
1) O ARGUMENTO COSMOLÓGICO considera o fato de que toda coisa conhecida do universo tem uma causa. Ou seja, o universo é um resultado (isto é, sua existência é inegável) o que exige uma causa primeira apropriada e sustentadora. Todo o resultado precisa ter uma causa suficiente.
a) Algo existe (o mundo).
b) O Nada não pode produzir algo.
c) Algo (Alguém) deve ter causado isso (o mundo).
O universo é ou:
(1) Auto-causado – impossível (teriam que existir antes que existiam para se auto-causar).
(2) Não-causado – Não possível a menos que eterno ou infinito, ou
(3) Causado por outro.
E, já que não pode haver uma série regressiva infinita de causas não causadas, tem que haver uma primeira causa não causada que deu início a tudo.
Demonstra a Deus como eterno e infinito (Gn 1.1; Ex 20.11; Hb 11.3).

2) O ARGUMENTO TELEOLÓGICO é na verdade uma subcategoria do argumento cosmológico. Como o universo parece ter sido planejado com um propósito, deve necessariamente existir um Deus inteligente e determinado que o criasse para funcionar assim.
a) Projeto e ordem implicam num projetista.
b) Nós vemos o projeto.
c) Deve haver um projetista.
Demonstra que Deus é inteligente e tem propósito (Gn 1.1-27; Sl 19.1; Jó 38–39; Rm 1.19,20).

3) O ARGUMENTO ONTOLÓGICO parte da idéia de Deus, definido como um ser “maior do que qualquer coisa que se possa imaginar”.
Demonstra Deus sendo o ser maior e perfeito (Gn 3.5; Is 55.8,9; Sl 14.1; Dt 32.4; Ec 3.11; At 17.24-28).

4) O ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO OU MORAL parte do senso humano do certo e do errado, e da necessidade da imposição da justiça, e raciocina que deve necessariamente existir um Deus que seja a fonte do certo e do errado e que vá algum dia impor a justiça a todas as pessoas.
Demonstra que Deus é pessoal e moral (Gn 1.27; Rm 2.12-15; 1.18,21-23; Sl 8.3-6).

Como todos esses argumentos se baseiam em fatos sobre a criação que realmente são verdadeiros, podemos dizer que todas essas provas (quando cuidadosamente formuladas) são, num sentido objetivo, provas válidas porque avaliam corretamente as evidências e ponderam com acerto, chegando a uma conclusão verdadeira: de fato, o universo realmente tem Deus como causa, realmente dá provas de um planejamento deliberado, Deus realmente existe como Ser maior do que qualquer coisa que se possa imaginar e Ele realmente nos deu um senso do certo e do errado e um senso de que Seu juízo virá algum dia.
Finalmente, é preciso lembrar que neste mundo pecador Deus precisa possibilitar que nos convençamos, senão jamais creríamos nEle. Lemos que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo” (2Co 4.4).
A aceitação da existência de Deus é uma questão de fé (Hb 11.6); bem como da revelação do próprio Deus (Mt 11.25-27; Jo 6.44,65; 16.7-11).


II. A Cognoscibilidade de Deus.

É possível conhecermos a Deus. E isto não porque somos habilitados por nós mesmos de conhecê-Lo, mas porque Ele Se revelou a nós (Jo 1.18; 1Co 2.9-16; 2Rs 17.13; Hb 1.1-4). Como somos incapazes[2] de conhecer, por nós mesmos, a Deus, Ele Se revelou e Sua revelação de Si mesmo é compreensível e clara.  Deus não Se revelou em uma linguagem que não possamos compreender, mas Ele Se revelou na linguagem humana. O Deus Infinito, Incompreensível condescendeu a revelar-Se de tal forma à criatura finita que esta, despojada de seu orgulho pecaminoso, pode ter uma idéia correta de Deus. Idéia esta impressa nas Escrituras Sagradas. Em uma só reflexão: Deus só é conhecido porque Se fez conhecer. Só temos uma idéia correta de Deus porque Ele Se auto-revelou a nós.
O conhecimento de Deus é a fonte de toda a beatitude na vida cristão. Como observou corretamente James I. Packer:

Para que fomos feitos? Para conhecer a Deus. Que alvo devemos estabelecer para nós mesmos na vida? Conhecer a Deus. O que é a ‘vida eterna’ que Jesus dá? Conhecimento de Deus (Jo 17.3). Qual é a melhor coisa na vida, que traz mais alegria, prazer e contentamento que qualquer outra? O conhecimento de Deus (Jr 9.23,24). Qual, de todos os estados em que Deus vê o homem, Lhe dá mais prazer? O conhecimento dEle (Os 6.6)[3].

Acrescente-se que a “contenda do SENHOR”, com os habitantes da terra, fora promovida pela falta do “conhecimento de Deus” (Os 4.1). E que “O... povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento...” (Os 4.6ª; cf. Pv 13.13). E ainda, Deus nos rejeita como sacerdotes se rejeitamos o conhecimento. Rejeitar o conhecimento equivale a esquecer a Lei do teu Deus (Os 4.6b). O povo de Deus é transtornado quando não tem entendimento (Os 4.14; cf. Is 1.3). O povo não se arrepende porque “não conhecem ao SENHOR” (Os 5.4). Somos exortados a não sermos passivos no conhecimento (Os 6.3). A ingenuidade não é uma virtude do cristão, é causada pela falta de entendimento (Os 7.11; Cf. Pv 1.5,22,32; 7.7; 8.5; 9.4,13-16; 10.13; 14.15,18; 19.25; 21.11; 22.3; 27.12 – estes versículos mostram que o simples carece de entendimento e conhecimento. A Palavra do SENHOR dá sabedoria aos símplices – Sl 19.7).

01. Três fontes de conhecimento acerca de Deus.
1) Razão e intuição humana.
Refere-se ao que o homem pode imaginar, sonhar ou pressupor a respeito de Deus.

2) Tradição e experiência.
Refere-se ao que os outros disseram, experimentaram ou concluíram acerca de Deus, inclusive nos antigos credos da igreja, confissões e tradições.

3) Revelação.
Refere-se a Deus tornando-Se conhecido do homem de forma compreensível:
a) Revelação Geral:
(1) Por meio de Sua criação (Sl 19.1-6).
(2) Para indivíduos (Gn 5.21-24; 6.13; 7.1; 9.1; 12.1-3; Ex 3.3-10; 12.1; 1Sm 3.2-4; 23.9-12; Is 6.8 e etc.).

b) Revelação Especial:
(1) Em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo (Jo 1.1,18; 7.17; 6.58,69; 8.40; 12.46; 14.6-11; Hb 1.1-4). Ao ler estas referências devemos está cientes, que Aquele que nos revela a Deus é “...O Amém, a Testemunha Fiel e Verdadeira...” (Ap 3.14).

(2) Através de Sua Palavra (Sl 19.7-14).
Todo o cristão se volta para as Escrituras Sagradas como a única fonte suprema e infalível para a construção de sua teologia[4].
No Antigo Testamento as palavras, como um meio de revelação, ocupam um lugar de destaque em cada livro. A frase mais comum empregada nesse sentido é “a Palavra do SENHOR veio a...” (Gn 15.1; 2Sm 7.4; 1Rs 6.11; 17.2 e na maioria dos profetas). O principal vocábulo hebraico traduzido por “palavra” é dãbãr. A forma verbal, de acordo com Jacob, pode significar “estar atrás e empurrar”. Uma palavra, portanto, é a projeção do que está atrás – ou seja, o que transpõe para um ato o que está no coração[5].
Os Dez Mandamentos são chamados as “Dez Palavras” (Ex 20.1; 24.3,48; 34.1,27,28). Essas “Palavras” constituem o cerne da revelação de Yahweh; nelas Yahweh afirma Sua vontade e ser o Senhor Soberano[6].

02. Por que é possível o homem finito conhecer o Deus infinito?
a) Deus escolheu revelar-Se a Si mesmo ao homem (Ex 3.1-6,13,14; Dt 29.29).
b) Deus fez o homem à Sua própria imagem espiritual com a capacidade de relacionar-Se com Ele através da mente, da vontade, das emoções e da personalidade (Gn 1.26,27).
c) Deus comunicou-Se com o homem em linguagem compreensível (Gn 2.15.17; Hb 1.1,2).
d) Deus deseja que o homem O busque e O encontre (Jr 29.13; 1Cr 28.9).
e) Deus nos deu o Seu Santo Espírito para que possamos conhecê-Lo e compreendê-Lo mais plenamente (1Co 2.10-13).

03. A Incompreensibilidade de Deus.
Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas; Deus é um Ser infinito. Nisto reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o infinito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em todo estudo posterior de teologia: “O finito não pode apreender (ou conter) o infinito”. Nada é mais óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço finito.

Entretanto, deve ser lembrado que há uma diferença entre conhecer a Deus e compreender a Deus. Podemos conhecê-Lo em Sua revelação, mas nunca o compreenderemos em Si, ou como Ele é.

Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus – o oculto e o revelado. Uma porção do conhecimento divino permanece oculta de nossa vida. Trabalhamos à luz do que Deus nos revelou. Compare os gráficos a seguir:




III. O Caráter de Deus.

A. Introdução ao estudo do Caráter de Deus

As Escrituras declaram que o caráter ou o Ser de Deus pode ser descrito ou revelado através (1º) do Seu Nome Yahweh – e os relacionados ou compostos a esse Nome. (2º) Por meio das obras que Lhe são atribuídas. (3º) Por meio de Seus atributos ou perfeições. (4º) Por meio do culto que elas (as Escrituras) requerem que Lhe seja prestado. (5º) Pela manifestação de Deus em Cristo. A seguir consideraremos, para efeito de nosso propósito, apenas os modos que revelam o Ser de Deus descritos nos itens (1º) e (3º). Ou seja, o Ser de Deus revelado em Seu Nome e compostos desse Nome, bem como através de Seus Atributos.

Vejamos primeiramente o caráter de Deus revelado pelo Seu Nome e seus compostos.
01. O Nome de Deus e Seus Compostos ou Apelativos:

Há muitos que afirmam que Deus tem vários Nomes, mas creio que é melhor falarmos sobre apenas um Nome de Deus e seus compostos. E isto pode ter o apoio das Escrituras Sagradas. As Escrituras falam do Nome de Deus no singular como, por exemplo, nos seguintes textos: Ex 20.7; Sl 8.1; 48.10; 76.1; Pv 18.10. Acrescente-se que o próprio Deus disse a Moisés: “... Eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso (ydF@ Ee = day                                                                                                                      #a$ l) = El Shadday); mas pelo Meu Nome, o SENHOR (hwhy = YHWH = Yahweh), não lhes fui perfeitamente conhecido” (Ex 6.3).
O fato de Ex 6.3 é que Deus não Se revelara no Seu caráter de “Yahweh” a Abraão como agora ia fazê-Lo a Israel. Na qualidade de Yahweh (ou Jeová, e ainda Javé), Deus ia agora (a) redimir o povo de Israel (v.6), (b) adotá-lo como Seu povo (v.7), (c) introduzi-lo na Terra Prometida (v.8). Por meio disto eles conheceriam a natureza do Deus que disse, Eu Sou o SENHOR (v.2).
Assim se expressa Louis Berkhof[7]:
Nesses casos “O Nome” vale por toda a manifestação de Deus em Sua relação com o Seu povo, ou simplesmente pela Pessoa, de modo que se constitui sinônimo de Deus... Então, no sentido mais geral da palavra, o Nome de Deus é Sua Auto-revelação. É um designativo Dele, não como Ele existe nas profundezas de Seu Ser Divino, mas como Ele Se revela especialmente em Suas relações com o homem. Para nós, o Nome geral de Deus é subdividido em muitos Nomes, que expressam o multiforme Ser de Deus. É unicamente porque Deus Se revelou em Seu Nome que podemos designá-Lo por esse Nome de várias formas. Os Nomes[8] de Deus não são invenções humanas, mas têm origem divina, embora tomados da linguagem humana e derivados das relações humanas e terrenas. São antropomórficos[9] e assinalam uma condescendente aproximação de Deus ao homem”.

Passemos a descrever o Nome e os compostos desse Nome ou Apelativos. Mas antes, cito a divisão proposta pelo Dr. Bavinck dos “Nomes” de Deus. Ele distingue entre nomina propria (Nomes Próprios), nomina essentialia (Nomes Essenciais, ou Atributos), e nomina personalia (Nomes Pessoais; como Pai e Filho e Espírito Santo). A seguir nos limitaremos a uma descrição dos nomina propria (Nomes Próprios).


Nome Divino
Significado
Referência
Yahweh
Aparece cerca de 6 800 vezes
Ex 6.3
Composto de Yahweh




Yahweh Yir’eh
O SENHOR Proverá
Gn 22.14
Yahweh Roph’ekha
O SENHOR Teu Médico. A palavra rofhe é usada cerca de 70 vezes e sempre significa “restaurar, curar ou um médico, não apenas no sentido físico, mas também no sentido moral e espiritual”.
Ex 15.26
Yahweh Shãlom
O SENHOR é Paz
Jz 6.24
Yahweh Ro’i
O SENHOR é meu Pastor
Sl 23.1
Yahweh Tsidkenu
O SENHOR Justiça nossa
Jr 23.6
Yahweh Nissi
O SENHOR é a minha Bandeira
Ex 17.15
Yahweh Shammah
O SENHOR está Ali
Ez 48.35
Yahweh Tseva’oth
O SENHOR dos Exércitos
Sl 24.9,10
Yahweh Meqadishkhem
O SENHOR santifica – Nenhum outro Nome expressa de forma mais verdadeira o Caráter de Yahweh e o que se requer de Seu povo.
Ex 31.13; Lv 20.8; 21.8; 22.32; Ez 20.12
Yahweh Qanna
O SENHOR Zeloso
Ex 20.5; 34.14; Dt 5.9
Yahweh Shafat
O SENHOR, o Juiz.
Jz 11.27
Yahweh Osenu
O SENHOR, nosso Criador.
Sl 95.6






’Elohim – Ocorre 2 700 vezes. Em Gn 1.1–2.4 = ’Elohim é usado 35 vezes. Ele cria por Seu grande poder o vasto universo; que diz e é feito; e traz à existência o que não existe.
Pode significar ‘grandeza e glória’, com a idéia de poder criativo que governa, de onipotência e de soberania. “Elohim é o Deus Criador colocando Sua onipotência em operação”.
Gn 1.1–2.4; 2Cr 18.31.
Alah – possível palavra a partir da qual Elohim poderia se derivar.
Significa “declarar ou jurar”, sugerindo assim um relacionamento baseado na aliança.








Composto de El




’El – Usado 250 vezes.
‘Poder’; poder divino e numinoso que enche os homens de assombro e terror. ‘Poderoso’, ‘Forte’, ‘Proeminente’; Deus Supremo. Demonstra a evidencia do poder de Deus.
Ex 6.3
’El Betel
Deus de Betel – o Deus que Se revelou em Betel.
Gn 35.7
’El Shadday
Deus Todo-Poderoso ou o Deus das montanhas – referindo-se as Suas visitas no Sinai, ou o Seu governo altivo.
Gn 17.1
’El ’Elyôn
Deus Altíssimo
Gn 14.22
’El Elohei Yisra’el
Deus, o Deus de Israel.
Gn 33.19,20
’El Olam
Deus Eterno ou Deus da Eternidade. A Sua soberania é contínua através das eras, que não é afetada pela passagem do tempo.


’El Ro’y
O Deus que me vê ou o Deus da visão.
Gn 16.13
’El Gibbor
Deus Poderoso; Grande Deus ou Deus Herói.
Is 9.6; Jr 32.18,19
’Elohey HaShamaíym Ve-Elohey Ha-’Arets
O Deus dos céus e o Deus da terra.
Gn 24.3
’El Qanna’
Deus Zeloso
Ex 20.5
’Elohey Há-’Elohym
O Deus dos deuses.
Dt 10.17
’El Hay
O Deus Vivo.
Js 3.10
’El De‘oth
O Deus das sabedorias.
1Sm 2.3
’Elohym Hayym
O Deus Vivo.
1Sm 17.26
’Elohey Ma’Arhoth Yisra’el
O Deus das batalhas de Israel
1Sm 17.45
’Eloáh Silihóth
O Deus dos Perdões
Ne 9.17
’El Hanun
Deus misericordioso.
Ne 9.31
’Elohym Sophet Tsadyq
Deus Juiz Justo.
Sl 7.12
’El Sal‘y
Deus Rocha Minha
Sl 42.9
’El Tsur Yisra’el
O Deus Rocha e Israel.
Is 30.29
’El Misthatêr
O Deus Misterioso.
Is 45.15
’Elohey ’Amen
O Deus do Amém, ou o Deus da Verdade.
Is 65.16
’El Ghemuloth
O Deus das Recompensas.
Jr 51.56
’Elohey Marom
O Deus Excelso.
Mq 6.6
O Nome de Deus indica-nos que Ele é um Ser pessoal. Disto destacamos a Personalidade de Deus. Os elementos que combinam para formar a personalidade são: (a) intelecto, (b) sensibilidade (emoções) e (c) vontade; mas todos esses agem juntos, a fim de exigir uma liberdade tanto da ação externa quanto da escolha dos fins para os quais a ação for direcionada. O intelecto deve dirigir, a sensibilidade dever desejar, e a vontade dever determinar a direção dos fins racionais. Não pode haver personalidade, seja humana, angelical ou divina, à parte desse complexo de essenciais.
Pelo Argumento Cosmológico tem sido observado que há um Criador que possui uma vontade de autodeterminação.
Pelo Argumento Teleológico tem sido observado que há um Criador que possui poderes mentais que designam e determinam os meios para um fim.
E pelo Argumento Antropológico, tem sido observado que há um Criador possuidor de sensibilidade.
De Deus é declarado que Ele é inteligente e onisciente (Sl 147.5; At 15.18; Hb 4.13).
De maneira semelhante, é declarado de Deus que Ele possui sensibilidade. Ele ama a justiça e odeia a iniqüidade. Ele possui ternas compaixões. Deus é amor (1Jo 4.16). E finalmente, o elemento de vontade é visto como presente em Deus (cf. Sl 115.3; Is 46.10; Dn 4.35; Mt 6.10; 10.29; 11.26; 12.50; 18.14; 26.42; Ef 1.5,9,11).

Ainda provamos a Personalidade de Deus por:
1) Pelos pronomes pessoais que O identificam:
a) Tu e Te (Jo 17.3).
b) Ele e Lhe (Sl 116.1,2).

2) Pelas características e propriedades de personalidades:
a) Tristeza (Gn 6.6).
b) Ira (1Rs 14.9).
c) Zelo (Dt 6.15).
d) Amor (Ap 3.19).
e) Ódio (Pv 6.16).
Como Deus é possuidor destas características e propriedades da personalidade, podemos afirmar categoricamente que Ele é um Ser Pessoal.

3) Pelas relações que Deus mantém com o universo e com os homens.
a) Como Criador de tudo (Gn 1.1,26; Jo 1.1-3; Ap 4.11).
b) Como Preservador de tudo (Hb 1.3; Cl 1.15-17).
c) Como Benfeitor de todas as vidas (Mt 10.29,30; Sl 104.27-30; Mt 6.26; 1Rs 19.5-7).
d) Como Governante e Dominador das atividades humanas (Rm 8.28; Sl 76.10; 75.5-7; Gn 39.21; 50.20; Dn 1.9).
e) Como Pai de Seus filhos (Gl 3.26; Hb 12.5-11; Jo 1.11-13).
A criação do universo e do homem prova a personalidade de Deus. Visto que Ele não só criou o universo e o homem, mas também mantém relações com eles. Essa relação é preservando, governando e benfeitorando tudo e todos.

Agora, em segundo lugar, vejamos o Caráter de Deus revelado em Seus Atributos e qual a relação dos Atributos com o Seu Ser ou Essência.

01. Definição do Termo Atributos.
Vem do latim ad, ‘para’, e tribuere, ‘atribuir’, ou seja, aquilo que é atribuído a alguma coisa. É digno de nota que contrastemos o termo atributo com acidente para termos uma idéia melhor do que queremos dizer com atributo quando o relacionamos a Deus. O termo acidente, também vem do latim, accidens, particípio presente de accidere, ‘acontecer’. A teologia escolástica e a filosofia aristotélica usaram o termo para indicar algo que adere ou acompanha uma entidade ou substância, embora sem fazer parte necessária da mesma, como a cor vermelha de uma maçã. Pode haver uma maçã que não seja vermelha; uma menina pode não ser loura, embora possa ser um acidente próprio de algumas meninas. Um acidente, nesta definição, não é uma qualidade essencial[10].
As qualidades ou perfeições de Deus não são um acidente, ou algo que O acompanha, sem, contudo fazer parte de Sua essência. Mas são atributos no sentido de indicar aquelas qualidades, propriedades ou perfeições atribuídas a Deus, como partes de Sua natureza essencial.
1) Os teólogos mais antigos distinguiam os Atributos de Deus:
(1) Dos Predicados que se referem a Deus em termos concretos e indicam Sua relação com Suas criaturas, como Criador, Preservador, Soberano e etc.

(2) Das Propriedades que, em termos técnicos, são as características distintivas das várias Pessoas da Trindade. As propriedades são funções (gerais), atividades (mais específicas) ou atos (extremamente específicos) de cada membro da Divindade. Ou seja, há determinados atos ou relações peculiares ou próprios ao Pai, outros ao Filho e outros ao Espírito Santo.

E, (3) Dos acidentes[11] ou qualidades que podem ou não pertencer a uma substância, os quais podem ser adquiridos ou perdidos.

Aprecio a definição de Atributos formulada por Strong, quando diz:
Os atributos de Deus são as características distintivas[12] da natureza divina inseparáveis[13] da idéia de Deus e que constituem a base e apoio[14] das Suas várias manifestações às Suas criaturas[15].

2) Três verdades devem ser dita aqui sobre os Atributos de Deus.
(1) Os Atributos são qualidades da Deidade inteira.
Todo o Ser Divino compreende a totalidade dos Seus Atributos: Ele é inteiramente amoroso, inteiramente misericordioso, inteiramente justo, e assim por diante. Cada Atributo de Deus que encontramos nas Escrituras é verdadeiro com respeito a todo o Ser Divino, e, portanto podemos dizer que cada Atributo de Deus também qualifica cada um dos Seus Atributos[16].





Cada atributo é simplesmente uma forma de descrever um aspecto do caráter ou Ser total de Deus. Deus em Si é uma unidade, um Ser integral, unificado e completamente integrado, infinitamente perfeito em todos esses atributos[17].

(2) Os Atributos são qualidades permanentes.
Não são perfeições acrescidas ou externas ao Ser ou a Essência de Deus, pois nenhum acréscimo jamais foi e será feito ao Ser de Deus, que é eternamente perfeito.




(3) Os Atributos são inseparáveis do Ser ou da Essência de Deus.
Não são propriedades ou estados da Essência Divina separáveis. O Conhecimento de Deus é Sua Essência conhecendo; Seu Amor é Sua Essência amando; Sua Vontade é Sua Essência querendo; e todas estas qualidades não são capacidades latentes de ação, nem estados que mudam, mas estados coexistentes e eternamente imutáveis da Essência Divina, a qual, tanto a respeito do estado e modo, como a respeito da existência, é “a mesma de ontem, hoje, e será por todos os séculos”, e “sem mudança, nem sombra de variação”[18].

3) Concepções errôneas dos Atributos e da Essência Divina.
(1) Nominalistas.
O termo vem do latim, nomen, nome. O nominalismo é uma palavra usada na filosofia, que, como exemplo tome-se a palavra “bondade”, ensina que a bondade seria um mero termo da linguagem, um nome que a linguagem humana manipula. A bondade não é uma essência real, mas apenas um termo da linguagem humana.
Com relação aos Atributos diferentes em Deus, os nominalistas asseveram que apenas usamos palavras ou nomes diferentes para uma e a mesma coisa.





(2) Realistas da Idade Média.
A base da palavra realismo é o termo latino res, “coisa”. E sua asserção básica é que essa “coisa” realmente existe, não sendo uma questão de imaginação, como afirma o nominalismo.
Enquanto nos opomos ao ponto de vista nominalista que sustenta que os Atributos são meros nomes com os quais, por necessidade do nosso pensamento, revestimos a Essência Divina simples, precisamos igualmente evita o extremo realista oposto que faz deles partes separadas de um Deus verdadeiro.
Só podemos conceber os Atributos de Deus como pertencendo a uma Essência subjacente que fornece sua base na unidade. Se representarmos Deus como um composto de Atributos, pomos em perigo a unidade da divindade.
Essa posição do realismo praticamente nega que Deus tenha uma Essência. Aqui, os Atributos são retratados como um tipo de conjunto de qualidades. São entendidos como partes fragmentadas ou segmentos de Deus. Os Atributos são considerados como existências separadas dentro da Essência Divina. Vejamos o gráfico abaixo:





O Ser de Deus não é uma coleção de Atributos reunidos. É melhor pensar nos Atributos de Deus como Sua natureza, não como uma coleção de partes fragmentadas nem como algo que se adiciona à Sua Essência.

02. Classificação dos atributos de Deus.
Quando falamos sobre o caráter de Deus, percebemos que não podemos dizer ao mesmo tempo tudo o que a Bíblia nos ensina sobre o caráter Dele.
Vamos usar então as duas categorias de atributos, “incomunicáveis” e “comunicáveis”, com plena consciência, porém de que não são classificações absolutamente precisas e de que existe na realidade muita sobreposição entre elas.



03. Definições equilibradas dos atributos incomunicáveis de Deus.
Os atributos incomunicáveis de Deus são talvez os mais fáceis de compreender equivocadamente, talvez porque representam aspectos do caráter divino menos familiares à nossa experiência.

05. Os Atributos Incomunicáveis de Deus:
1) Independência.
Versículos chaves: At 17.24-28; Dt 32.39; Ex 3.13,14; Is 40.13,14; 45.11,12; Sl 50.9-12; 2Sm 7.5-7.
Deus não precisa de nós nem do restante da criação para nada; porém, tanto nós quanto o restante da criação podemos glorificá-Lo e dar-Lhe alegria. Esse atributo de Deus é às vezes chamado existência autônoma ou aseidade (das palavras latinas a se, que significam “de si mesmo”).
Deus é absolutamente independente e auto-suficiente. A Confissão de Fé de Westminster afirma:

Deus tem em Si mesmo, e de Si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança (Jo 5.26; At 7.2; Sl 119.68; 1Tm 6.15; Rm 9.5). Ele é todo-suficiente em Si e para Si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a Sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas (At 17.24,25). Ele é a única origem de todo o ser; dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas (Rm 36; Is 40.12-17) e sobre elas tem Ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser (Dn 4.25; Ef 1.11). Todas as coisas estão patentes e manifestas diante dEle (Hb 4.13); o Seu saber é infinito, infalível e independente da criatura (Rm 33.,34; Sl 147.5), de sorte que para Ele nada é contingente ou incerto (Is 46.9-11; At15.18; Ez 11.5). Ele é santíssimo em todos os Seus conselhos, em todas as Suas obras e em todos os Seus preceitos (Sl 145.17; Rm 7.12). Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer outra criatura lhe são devidos todo o culto, todo o serviço e obediência, que Ele houver por bem requerer deles (Ap 7.11,12; Ap 5.12-14).
Deus existe perpetuamente em e por Si mesmo, e é, portanto, independente, auto-suficiente e não precisa de ninguém ou nada.
Deus está absolutamente livre e independente de quaisquer necessidade.
Deus não está obrigado a ninguém e nem deve nada a ninguém (Rm 11.35,36; Jó 41.11). Nada do que fazemos ou deixamos de fazer (comissão ou omissão), negativa ou positivamente, acrescenta a Deus (Jó 35.6-8). Deus não é servido por nenhuma de Suas criaturas e muito menos depende delas (At 17.25). Mas o contrário é verdadeiro (At 17.28).
Quando Deus nos chama para Si, ou nos usa em Sua obra, é porque Ele escolhe fazê-lo (Jo 6.65; 15.16).

2) Imutabilidade.
Versículos chaves: Sl 102.26,27; Tg 1.17; Nm 23.19; Ml 3.6; Hb 1.10-12; Hb 13.8.
Deus é imutável no Seu Ser, nas Suas perfeições, nos Seus propósitos e nas Suas promessas; porém, Deus age e sente emoções, e age e sente de modos diversos diante de situações diferentes. Esse atributo de Deus é também chamado inalterabilidade ou constância.
Deus não pode mudar para melhor ou para pior; nada pode ser adicionado a, ou subtraído de, Deus.
Deus sempre age em perfeita harmonia com Seu caráter ou Ser.
Deus não é influenciado por emoções ou circunstâncias (Ez 24.14).
As atitudes e ações de Deus são sempre coerentes
Deus é confiável (1Sm 15.29).
Dois aspectos da imutabilidade ou constância Divina podem ser destacados.
a) Não existe mudança quantitativa = Deus não pode crescer em nada, porque Ele é perfeito. Também não pode decrescer, pois caso o fizesse, deixaria de ser Deus.
b) Não há mudança qualitativa = A Natureza de Deus não sofre modificações. Portanto, Deus não muda Sua idéias, planos ou ações, pois firmam-se em Sua Natureza, que permanece imutável não importa o que aconteça
3) Eternidade.
A eternidade de Deus pode ser definida assim: Deus não tem princípio nem fim nem sucessão de momentos no Seu próprio Ser, e percebe todo o tempo com igual realismo; Ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo.
Versículos chaves; Dt 32.40; 33.27; Sl 9.7; 90.2; 102.27; 146.10 Is 57.15; 63.16; Jr 10.10; Lm 5.19; 1Tm 1.17.

A) DEUS É ETERNO NO SEU PRÓPRIO SER.
Deus é eterno no Seu próprio Ser (Sl 90.2; Jó 36.26). Deus sempre É (Ap 1.18; 4.8; Jo 8.58; Ex 3.14). O próprio Ser Divino não tem uma sucessão de momentos nem nenhum progresso de um estado de existência a outro. Para Deus, toda a Sua existência é sempre, de algum modo, “presente”. Isso não significa que todos os acontecimentos da história se apresentam a Deus como se fossem presentes, pois Deus percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo sem ser sujeito ou limitado ao tempo e pelo tempo, pois Ele é o Criador do tempo.

B) DEUS PERCEBE TODO O TEMPO COM IGUAL REALISMO.
É em certo sentido mais fácil para nós compreender que Deus percebe todo o tempo com igual realismo (Cf. Sl 90.4).

C) DEUS PERCEBE OS ACONTECIMENTOS NO TEMPO E AGE NO TEMPO.
Todavia, dito isso, para evitar uma compreensão equivocada é preciso completar a definição da eternidade de Deus: “... Ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo”. Paulo escreve: “... vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei” (Gl 4.4-5).

D) SEMPRE EXISTIREMOS NO TEMPO.
Será que algum dia participaremos da eternidade de Deus? Especificamente, no novo céu e na nova terra que hão de vir, será que o tempo ainda existirá? Alguns supõem que não. E lemos nas Escrituras: “A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a Sua lâmpada [...] porque, nela, não haverá noite” (Ap 21.23, 25; cf. 22.5).

Às vezes essa doutrina é chamada doutrina da infinitude de Deus com respeito ao tempo. Ser “infinito” é ser “ilimitado”, e a doutrina ensina que o tempo não impõe limites a Deus.

4) Onipresença.
Assim como Deus é ilimitado ou infinito com respeito ao tempo, também é ilimitado com respeito ao espaço. Essa característica da natureza de Deus é chamada onipresença divina (o prefixo latino o[m]ni- significa “tudo”). A onipresença de Deus pode ser assim definida: Deus não tem tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com todo o Seu Ser; Ele, porém, age de modos diversos em lugares diferentes.

A) DEUS ESTÁ PRESENTE EM TODO LUGAR.
Há, porém, determinadas passagens que falam da presença de Deus em toda parte do espaço. Lemos em Jeremias: “Acaso, Sou Deus apenas de perto, diz o Senhor, e não também de longe? Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que Eu não o veja? — diz o Senhor; porventura, não encho Eu os céus e a terra? — diz o Senhor” (Jr 23.23-24). Deus aqui repreende os profetas que pensam que suas palavras ou pensamentos ficam ocultos de Deus. Ele está em todo lugar e enche o céu e a terra.

 B) DEUS NÃO TEM DIMENSÕES ESPACIAIS.
Embora para nós pareça necessário dizer que todo o Ser de Deus está presente em toda parte do espaço, ou em cada ponto do espaço, é também necessário dizer que Deus não pode ser contido por espaço nenhum, por maior que seja. Salomão diz na sua oração a Deus: “Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei” (1Rs 8.27).

C) DEUS PODE ESTAR PRESENTE PARA PUNIR, SUSTENTAR OU ABENÇOAR.
A idéia da onipresença de Deus às vezes perturba as pessoas, que se perguntam como Deus pode estar presente, por exemplo, no inferno. De fato, não é o inferno o oposto da presença de Deus, ou a ausência de Deus? A dificuldade pode ser resolvida pela percepção de que Deus está presente de modos diversos em lugares diferentes, ou de que Deus age diferentemente em locais distintos da sua criação.

5) Unidade.
A unidade de Deus pode ser definida desta forma: Deus não está dividido em partes; porém percebemos atributos diversos de Deus enfatizados em momentos diferentes.
Alexander A. Hodge diz que há dois sentidos na palavra Unidade, quando se refere a uma perfeição (atributo) de Deus.

a) Deus é Único: há um só Deus, com exclusão de qualquer outro (Jo 10.30).
b) Há uma só Essência em Deus: Embora haja tripla distinção pessoal na Unidade da Deidade, essas três Pessoas são numericamente uma só substância ou essência, e constituem um só Deus indivisível[19]. Ou seja, a Unidade de Deus, como um predicativo, implica que não há mais de uma Essência e que esta Essência não é divida em partes.

6) Unicidade.
Versículo-chave (Is 40.5).
Deus acha-Se sozinho. Não há ninguém como Ele – Ele é sem-par e sem igual, exaltado acima de Sua criação.
Explanação:
a) Só o SENHOR (Yahweh) é Deus (2Sm 7.22).
b) Só o SENHOR (Yahweh) é grande e poderoso (Jr 10.6; Is 40.10).
c) Só o SENHOR (Yahweh) é reto (Sl 51.4; Jó 33.12; Gn 18.25; Is 45.19).
d) Só o SENHOR (Yahweh) é sábio (Dn 2.20).
e) Ele é o único com o Nome Yahweh (Dt 6.4).
f) Só o SENHOR (Yahweh) é bom (Sl 100.5; Mt 19.17).
g) Só o SENHOR (Yahweh) é soberano (Dn 4.34,35).
h) Só o SENHOR (Yahweh) é santo (1Sm 2.2).
i) Só o SENHOR (Kyrios) é fiel (2Tm 2.13; Ne 9.33)
j) Só o SENHOR (Yahweh) pode salvar (Is 59.16; Lc 18.26,27). A salvação vem de Yahweh (Sl 3.8; Jn 2.9).

A lista de atributos dada aqui na categoria “comunicáveis” nada tem de incomum, mas compreender a definição de cada atributo é mais importante do que ser capaz de classificá-los exatamente da maneira apresentada neste estudo.
Podemos dividir os atributos “comunicáveis” de Deus em cinco categorias principais, sendo os atributos relacionados dentro de cada categoria.

1. Desta forma os atributos descrevem o ser de Deus são:
Versículos-chave (Jo 4.23,24; Is 31.3; hb 12.9; Rm 1.20; 1Tm 1.17; Cl 1.15).
Deus, em Sua natureza essencial, é Espírito.
Algumas implicações ficam evidentes desta verdade:

a) Deus não é matéria: O espírito não é uma parte refinada da matéria, mas uma substância imaterial, invisível, não composta, indestrutível.
b) Deus não depende da matéria: Deus não tem nenhuma conexão necessária com a matéria. Esta não é eterna. Deus é independente de todas as coisas. De eternidade a eternidade Ele é Deus.
c) Deus não está limitado à matéria: Ele não sofre limitações inerentes ao corpo físico. Ele não é limitado a um ponto geográfico ou espacial. Isso está implícito na afirmação do Senhor Jesus: “A hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai” (Jo 4.21).
d) Deus não é destrutível como a matéria: A natureza da matéria é sujeita a destrutibilidade, mas Deus, que é Espírito é indestrutível.
e) Deus não tem composto como a matéria: O corpo humano é constituído de carne, nervos, músculos, ossos e etc., mas, como o próprio Senhor Jesus afirmou, “um espírito não possui carne nem ossos” (Lc 24.39). Deus, em Sua Essência, não é físico ou material, embora em Cristo Ele tenha escolhido assumir as limitações do invólucro humano (Jo 1.14; Hb 2.14,16,17; 1Jo 4.3).
f) Deus não pode ser representado por nenhum objeto ou figura física como a matéria: A espiritualidade de Deus entra em contraste e oposição com a idolatria e ao culto à natureza (Ex 20.4,5; Dt 4.12-18).

As pessoas muitas vezes se perguntam do que Deus é feito. A resposta das Escrituras é que “Deus é Espírito” (Jo 4.24). Essa afirmação é feita pelo Senhor Jesus no contexto de uma discussão com a samaritana ao lado da fonte. Assim, não devemos pensar que Deus tem tamanho ou dimensões, mesmo que infinitas.

2) Invisibilidade.
Ligado à espiritualidade de Deus está o fato de que Deus é invisível. Porém também precisamos falar das formas visíveis nas quais Deus Se manifesta. A invisibilidade de Deus pode ser definida assim: dizer que Deus tem como atributo a invisibilidade é dizer que a essência integral de Deus, todo o Seu Ser espiritual, jamais poderá ser vista por nós, embora Deus Se revele a nós por meio de coisas visíveis, criadas.

2. Atributos Mentais:
3) Conhecimento (onisciência).
O conhecimento de Deus pode ser definido assim: Deus conhece plenamente a Si mesmo e todas as coisas reais e possíveis num ato simples e eterno.
A definição dada acima explica a onisciência com mais detalhes. Diz primeiro que Deus conhece plenamente a Si mesmo. Trata-se de um fato espantoso, pois o próprio Ser divino é infinito ou ilimitado.
Deus não conhece as coisas sucessivamente, mas simultaneamente.
Deus conhece todas as sucessões de uma só vez, sem qualquer sucessão de conhecimento em Si mesmo.
Deus conhece todas as contingências[20], mas não conhece nada contingentemente. A Confissão de Fé de Westminster, em seu capítulo II, e item II, afirma que para Deus:

“... Todas as coisas estão patentes e manifestas diante dEle (Hb 4.13); o Seu saber é infinito, infalível e independente da criatura (Rm 11.33,34; Sl147.5), de sorte que para Ele nada é contingente ou incerto (Is 46.9-11; At 15.18; Ez 11.5)...”

Versículos chaves: 1Sm 2.3; Jo 12.13; Sl 94.10; 147.4; Is 29.15; 40.27,28; Jó 37.16; 1Sm 16.7; 1Cr 28.9,17; Sl 139.1-4; Jr 17.10 Dt 2.7; Jó 23.10; 24.23; 31.4; Sl 1.6; 119.68; 33.13; 37.18.
Presciência de Deus: 1Sm 23.10-13; 2Rs 13.19; Sl 81.14,15; Is 2.9; 48.18; Jr 2.2,3; 38.17-20; Ez 3.6; Mt 11.21;

4) Sabedoria.
Pode-se considerar a sabedoria de Deus como um aspecto do Seu conhecimento. Dizer que Deus tem sabedoria significa dizer que Ele sempre escolhe as melhores metas e os melhores meios para alcançar essas metas. Essa definição vai além da idéia de que Deus conhece todas as coisas, e especifica que as decisões divinas quanto ao que fará são sempre sábias, ou seja, sempre trazem os melhores resultados (do ponto de vista absoluto de Deus), e trazem esses resultados pelos melhores meios possíveis.
Versículos-chave: Rm 11.33; 14.7,8; Ef 1.11,12; Cl 1.16; Pv 8; Sl 19.1-7; 104.1-34 – criação; Sl 33.10,11; Rm 8.28 – na providência; Rm 1Co 2.7; Ef 3.10 – redenção.

5) Veracidade (e fidelidade).
A veracidade divina implica que Ele é o Deus verdadeiro, e que todo o Seu conhecimento e todas as Suas Palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo da verdade.
O termo fidedignidade, que significa “veracidade” ou “confiabilidade”, é às vezes usado como sinônimo da veracidade divina.
A verdade de Deus é o alicerce de todo o conhecimento. Deus em Sua veracidade responde plenamente à idéia da Divindade, é perfeitamente confiável em Sua revelação, e vê as coisas como realmente são (cf. Ex 34.6; Nm 23.19; Dt 32.4; Sl 25.10; 31.6; Is 65.16; Jr 10.8-11; Jo 14.6; 17.3; Tt 1.2; Hb 6.18; 1Jo 5.20,21).
A Fidelidade é um aspecto da Veracidade Divina. Em virtude da qual Ele está sempre atento à Sua aliança e cumpre todas as promessas que fez ao Seu povo (Nm 23.19; Dt 7.9; Sl 89.33; 36.5; Is 49.7; 1Co 1.9; 2Tm 2.13; Hb 6.17,18; 10.23).

3. Atributos Morais:
6) Bondade.
A bondade de Deus implica que Ele é o parâmetro definitivo do que é bom, e que tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação.
Versículos-chave: Sl 34.8; 100.5; Mt 19.17; Tg 1.17.
a) Deus jamais procura gerar maus resultados.
b) O mal não se origina em Deus (Hc 1.13).
c) Quando Deus nos disciplina é para o nosso bem (Hb 12.10,11).
d) Deus usa até as coisas e circunstâncias ruins para atingir bons resultados (Gn 50.20; Rm 8.28).
e) O desejo de Deus em nosso favor é sempre motivado pelo bem (Mt 7.9-11).

7) Amor.
Dizer que Deus tem o amor como atributo é dizer que Ele se doa eternamente aos outros.
Essa definição interpreta o amor como uma doação de Si mesmo em benefício dos outros. Esse atributo de Deus mostra que faz parte da Sua natureza doar-Se a fim de distribuir bênçãos ou o bem aos outros.
João nos diz que “Deus é amor” (1Jo 4.8). Temos sinais de que esse atributo de Deus já existia antes da criação entre os membros da Trindade. O Senhor Jesus fala ao Pai da “...glória que Me conferiste, porque Me amaste antes da fundação do mundo.” (Jo 17.24), indicando assim que o Pai já amava e honrava o Filho desde a eternidade. E continua até hoje, pois lemos: “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às Suas mãos” (Jo 3.35).
Versículos-chave: Jo 3.16; Sl 145.17; 1Jo 4.8-11; Rm 5.6-8; Nm 1.5; Sl 136; 1Co 13.1-13.


8) Misericórdia, graça, paciência.
A misericórdia, a paciência e a graça divinas podem ser tidas como três atributos separados ou como aspectos particulares da bondade de Deus. As definições dadas aqui apresentam esses atributos como casos especiais da bondade de Deus quando empregada em benefício de categorias específicas de pessoas.
a) A misericórdia de Deus é a bondade divina para com os angustiados e aflitos.
Versículos-chave: Sl 25.6,7; Pv 28.13; Rm 9.14-18; Ef 2.4; Hb 3.2; Tt 3.5.
Também, podemos afirmar que misericórdia é Deus retendo compassivamente aquilo que nós por direito merecemos por causa do nosso pecado.
A misericórdia é freqüentemente traduzida nas Escrituras como compaixão e benignidade.
Quando Deus escolhe agir com base em misericórdia, ninguém pode alegar qualquer crédito por mérito pessoal.
A motivação dupla para o perdão do pecado é a misericórdia e a graça de Deus.
Misericórdia expressa uma escolha ativa por parte de Deus.

b) A graça de Deus é a bondade divina para com os que só merecem castigo.
Versículos-chave: Sl 111.4; Ne 9.17; Tt 2.11,12; Ef 2.4-9; Rm 3.22-24; 1Co 15.9,10.
Graça é Deus dando livre e generosamente a nós aquilo que nós, por direito, não merecemos.
A graça de Deus é tanto Seu favor não merecido, outorgado a nós, como também Sua capacitação divina para reagirmos a Ele e servi-LO.
Graça é personificada no Senhor Jesus Cristo (Jo 1.14-17; Tt 2.11).
A graça transborda da bondade e do grande amor de Deus.
Se Deus não fosse gracioso, todos os homens morreriam em seus pecados. Mas podemos louvar a Deus, porque Ele é o Deus de toda a graça (1Pe 5.10).

c) A paciência de Deus é a bondade divina no sustar a punição daqueles que persistem no pecado por determinado tempo.
Versículos-chave: Nm 9.29-31; Sl 145.8; Rm 2.4; 1Pe 3.20; 2Pe 3.8,9.
Paciência é a auto-restrição de Deus quanto a julgar o pecado por causa de Seu desejo de que o homem se arrependa e seja salvo.
A paciência de Deus é as vezes traduzida por “tardio em se irar” e “longânimo”.
A paciência de Deus pode ser “esgotada” (Jr 6.11; 15.6).
A natureza paciente de Deus demonstra o Seu desejo de que os ímpios não pereçam em seus pecados (Ez 18.23).
Os homens não deveriam tomar liberdades com a paciência de Deus (Is 7.13).

9) Santidade.
Dizer que Deus tem como atributo a santidade é dizer que Ele é separado do pecado e dedica-Se a buscar a Sua própria honra. Essa definição contém ao mesmo tempo uma qualidade relacional (separação de) e uma qualidade moral (a separação é do pecado ou do mal, e a dedicação é em prol da própria honra ou glória de Deus). A idéia de santidade, abarcando tanto a separação do mal quanto a dedicação de Deus à Sua própria glória, encontra-se em várias passagens do Antigo Testamento.
Versículos-chave: 1Sm 2.2; Lv 19.2; Sl 99.9; Is 6.1-8.
a) Deus não pode olhar para o pecado e aprová-lo (Hc 1.13; Sl 5.4).
b) O pecado separa o homem de Deus (Is 59.2; Rm 3.10,23).
c) Qualquer coisa (pessoa) que se relacione adequadamente com Deus precisa ser santa (1Pe 1.15,16; 2Co 7.1).

10) Paz (ou ordem).
Em 1Co 14.33, Paulo diz: “Deus não é de confusão, e sim de paz. Embora “paz” e “ordem” não sejam tradicionalmente classificadas como atributos divinos, Paulo aqui sugere outra qualidade que poderíamos conceber como atributo distinto de Deus. Paulo diz que os atos de Deus se caracterizam pela “paz” e não pela “desordem” (gr. akatastasia, palavra que significa “desordem, confusão, inquietude”).

11) Retidão, justiça.
Em português as palavras retidão e justiça são duas palavras distintas, mas tanto no Antigo Testamento hebraico quanto no Novo Testamento grego, só há uma palavra por trás desses dois termos. (No Antigo Testamento, esses termos traduzem principalmente as várias formas da palavra tsedek e, no Novo Testamento, as várias formas da palavra dikaios). Portanto, consideraremos que esses dois termos designam um único atributo divino.
Mais ainda vale uma pequena distinção:
a) Deus é Reto.
Versículos-chave: Sl 11.7; 119.142; 145.17; Is 45.21; Rm 1.17; 1Jo 2.1; 1Co 1.30; 2Co 5.21.
Deus é sempre reto e sempre age de perfeito acordo com Seu caráter santo.
Justiça é estar “reto diante de Deus”, Ele que é inerentemente reto.
Justiça é “um viver reto (santo)” de acordo com os caminhos de Deus (Rm 6.19-22).
O homem “reto” vive pela fé em Deus (Hc 2.4).
Justiça vem através somente do Senhor Jesus Cristo (Rm 3.21,22).
O homem não tem justiça se separado de Deus (Rm 3.10-12).
As nossas justiças comparadas a de Deus é como um “trapo de imundícia[21]” (Is 64.6).

b) Deus é Justo.
Versículos-chave: Ez 18.4,19-21, 29,30; Jr 9.24; Zc 3.5; Mt 20.1-16; Sl 89.14; At 17.29-31; Rm 14.10-12; 1Pe 2.13.
Deus sempre lida de forma eqüitativa com todos os homens, tendo-os por responsáveis diante dEle e sob o mesmo perdão, enquanto recompensa o justo e pune o ímpio.
Deus não mostra parcialidade (Jó 34.17-19; At 10.34,35).
O próprio Deus é o santo padrão pelo qual todos os homens são medidos e diante do qual prestarão contas (Am 7.7,8; 1Pe 1.17).
Imparcialidade é um concerto humano com base em circunstâncias pessoais e diz respeito a como os outros são tratados.
Já que Deus é justo, Ele precisa recompensar o justo e punir o ímpio (Nm 14.18).
A justiça de Deus é exercitada com misericórdia e graça.

12) Zelo.
Tem o significado de estar alguém profundamente comprometido com a busca da honra ou do bem-estar de outrem ou de si mesmo. Diz Paulo aos coríntios: “Zelo por vós com zelo de Deus” (2Co 11.2). Aqui o sentido é “empenhado na proteção e na vigília”.
As Escrituras apresentam-nos um Deus Zeloso, nesse sentido do termo. Ele contínua e sinceramente busca proteger a Sua própria honra. Ordena que Seu povo não se prostre perante ídolos, nem os sirva, dizendo: “... porque Eu Sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso (Ex 20.5).

13) Ira.
Talvez nos surpreenda perceber que a Bíblia fala com muita freqüência da ira de Deus. Porém, se Deus ama tudo o que é certo e bom, e tudo o que se conforma ao Seu caráter moral, então não deve admirar que Ele odeie tudo o que se opõe ao Seu caráter moral. A ira de Deus diante do pecado está, portanto intimamente associada à santidade e à justiça de Deus. A ira de Deus pode ser definida assim: dizer que a ira é atributo de Deus é dizer que Ele odeia intensamente todo o pecado.
Versículos-chave: Zc 2.1-3; Jo 3.36; Rm 1.18; Cl 3.5,6; Ef 5.6; Ap 16.6.


4. Atributos de Propósito:
14) Vontade.
A vontade de Deus é o atributo por meio do qual Ele aprova e decide executar todo ato necessário para a existência e para a atividade de Si mesmo e de toda a criação.
Essa definição indica que a vontade de Deus tem que ver com a decisão e com a aprovação das coisas que Deus é e faz. Envolve as escolhas divinas do que fazer e do que não fazer.

A) A VONTADE DE DEUS EM GERAL.
As Escrituras freqüentemente indicam a vontade de Deus como razão definitiva ou absoluta para qualquer coisa que acontece. Paulo se refere a Deus como Aquele “que faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade (Ef 1.11).

B) DISTINÇÕES NOS ASPECTOS DA VONTADE DE DEUS.
Vontade necessária e vontade livre. Algumas distinções já traçadas no passado podem-nos ajudar a compreender diversos aspectos da vontade de Deus. Assim como podemos querer ou escolher algo com anseio ou relutância, com alegria ou arrependimento, em segredo ou publicamente, também Deus, na infinita grandeza da Sua personalidade, é capaz de querer coisas diferentes de modos diversos.

Vontade secreta e vontade revelada. Outra distinção proveitosa aplicada aos diferentes aspectos da vontade divina é a que se faz entre a vontade secreta e a vontade revelada de Deus. Mesmo na nossa experiência sabemos que somos capazes de desejar algumas coisas secretamente, e só mais tarde revelar essa vontade aos outros. Às vezes contamos aos outros antes que a coisa desejada surja ou aconteça; noutras vezes revelamos o segredo só quando o acontecimento desejado já ocorreu.

15) Liberdade.
A liberdade de Deus é o atributo por meio do qual Ele faz o que lhe apraz. Essa definição implica que nada em toda a criação pode impedir que Deus execute a Sua vontade. Esse atributo de Deus está, portanto intimamente associado à Sua vontade e ao Seu poder. Mas esse aspecto da liberdade concentra-se no fato de Deus não Se ver cerceado por nada que lhe seja exterior e de Ser Ele livre para fazer o que desejar. Não há pessoa ou força que possa ditar a Deus o que fazer. Ele não está debaixo de nenhuma autoridade nem de nenhuma limitação exterior.

16) Onipotência (poder, soberania).
A onipotência é o atributo de Deus que Lhe permite fazer tudo o que for da Sua santa vontade. A palavra onipotência vem de dois termos latinos, omni, “todo”, e potens, “poderoso”, significando, portanto “todo-poderoso”. Enquanto a liberdade de Deus se refere ao fato de não haver constrangimentos exteriores às decisões de Deus, a onipotência divina refere-se ao Seu próprio poder de fazer o que decidir fazer.

5. Atributos de Síntese:
17) Perfeição.
A perfeição é o atributo divino que permite que Deus possua com excelência absolutamente todas as qualidades e não careça de nenhum aspecto dessas qualidades que Lhe seja desejável.
É difícil decidir se isso deve ser tido como atributo isolado ou simplesmente incluído na descrição dos outros. Algumas passagens dizem que Deus é “perfeito” ou “completo”. Diz-nos Jesus: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste (Mt 5.48).

18) Bem-aventurança.
Ser “bem-aventurado” ou “bendito” é ser feliz num sentido bastante pleno e magnífico. Freqüentemente as Escrituras falam da bem-aventurança das pessoas que andam nos caminhos de Deus. Em 1Timóteo, porém, Paulo denomina a Deus bendito e único Soberano” (1Tm 6.15) e fala do “evangelho da glória do Deus bendito (1Tm 1.11). Em ambos os casos a palavra não é eulogêtos (muitas vezes traduzida como “bendito”), mas makarios (que significa “feliz”).

19) Beleza.
A beleza é o atributo divino por meio do qual Deus Se revela a soma de todas as qualidades desejáveis. Esse atributo divino está implícito em vários dos atributos anteriores e é especialmente associado à perfeição de Deus. Porém, a perfeição de Deus foi definida de uma forma que mostra que Ele não carece de nada que Lhe seria desejável. Este atributo, a beleza, se define de uma maneira positiva, para mostrar que Deus de fato possui todas as qualidades desejáveis: “perfeição” significa que Deus não carece de nada desejável; “beleza” significa que Deus tem tudo o que é desejável. São duas formas diferentes de declarar a mesma verdade.
Devemos adorar-Lo na beleza de Sua santidade (Sl 96.9).

20) Glória.
Num dos seus sentidos a palavra glória significa simplesmente “honra” ou “reputação excelente”. Esse é o significado do termo em Is 43.7, em que Deus fala dos Seus filhos, “que criei para minha glória”, ou em Rm 3.23, que diz que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Noutro sentido, a “glória” de Deus significa a clara luz que circunda a presença de Deus. Como Deus é Espírito, e não energia nem matéria, essa luz visível não faz parte do Ser divino, mas é algo criado. Podemos defini-la assim: a glória de Deus é o brilho criado que circunda a revelação do próprio Deus.


IV. A Santíssima Trindade.
É importante lembrar a doutrina da Trindade em relação com o estudo dos atributos de Deus. Quando concebemos a Deus como Ser eterno, onipresente, onipotente e assim por diante, talvez tenhamos a tendência, em relação a esses atributos, de concebê-Lo apenas como Deus Pai. Mas o ensinamento bíblico sobre a Trindade nos diz que todos os atributos de Deus valem para as três Pessoas, pois cada uma Delas é plenamente Deus.
Cada Pessoa da Trindade é descrita na Bíblia, como tendo, pelo menos, os seguintes atributos:

Atributos
Deus Pai
Deus Filho
Deus Espírito Santo
Onipresença
Jr 23.24
Ef 1.20-23
Sl 139.7
Onipotência
Gn 17.1
Ap 1.8
Rm 15.19
Onisciência
At 15.18
Jo 21.17
1Co 2.10
Capacidade de criar
Gn 1.1
Jo 1.3
Jó 33.4
Eternidade
Rm 16.26
Ap 22.13
Hb 9.14
Santidade
Ap 4.8
At 3.14
1Jo 2.20
Santificador
Jo 10.36
Hb 2.11
1Pe 1.2
Fonte de vida eterna
Rm 6.23
Jo 10.28
Gl 6.8
Inspirador dos profetas
Hb 1.1
2Co 13.3
Mc 13.11; 2Pe 1.20,21
Supridor de ministros à Igreja
Jr 3.15
Ef 4.11
At 20.28
Salvador
2Ts 2.13
Tt 3.4-6
1Pe 1.2

Podemos definir a doutrina da Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como Três Pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo — e cada Pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.
01. A revelação parcial no Antigo Testamento.
A palavra trindade não se encontra na Bíblia, embora a idéia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa “tri-unidade” ou “três-em-unidade”. É usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três Pessoas, porém um só Deus.
1) Os nomes e pronomes no plural que se aplicam a Deus (Gn 1.1,26; 3.22; 11.6,7; 20.13; 48.115; Is 6.8).
2) Existe distinção entre o SENHOR e o SENHOR (Gn 19.24; Os 1.7 e Cf. 2Tm 1.18).
3) O SENHOR tem um Filho (Sl 2.7; Jo 9.35; Rm 1.4; Jo 3.16,18; Hb 1.6; Is 9.6).
4) Existe distinção entre o Espírito de Deus (Gn 1.1,2; 6.3; Nm 27.18; Sl 51.11; Is 40.13; 48.16; Ag 2.4,5).
5) As trisagias da Escritura parecem insinuar uma Trindade (Is 6.3; Ap 4.8).
6) A Bênção Arônica parece insinua a mesma coisa (Nm 6.24-26).
7) Atenção especial dever ser dada a frase “Anjo do SENHOR”. Strong diz que ela “parece, no Antigo Testamento, com pouco além de uma única exceção, designar o Logos pré-encarnado, cuja manifestação em forma visível fazia prever a hora em que finalmente viria em carne”. A exceção encontra-se em Ag 1.13, onde o próprio Ageu é o “mensageiro” do SENHOR. Como Anjo do SENHOR, Ele apareceu a Hagar (Gn 16.7-14), a Abraão (Gn 22.11-18), a Jacó (Gn 31.11,13), a Moisés (Ex 3.2-5) e etc.

02. A revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento.

1) Na comissão apostólica (Mt 28.19,20).
2) Na bênção apostólica (2Co 13.13 ARA e v.14 na ACF).
3) No batismo do Senhor Jesus (Mt 3.13,17).
4) No ensino do Senhor Jesus (Jo 14.16,17; 16.7-10).
5) No ensino do apóstolo Paulo, no tocante aos dons do Espírito Santo à Igreja (1Co 12.4-6; At 20.28; vide também: 1Pe 1.2; 3.18).

B. Três Declarações que Resumem o Ensino Bíblico.
01. Deus é três Pessoas.
02. Cada Pessoa é plenamente Deus.
03. Há só um Deus.

01. Deus é Três Pessoas.
O fato de ser Deus três Pessoas significa que o Pai não é o Filho; são Pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo, mas são Pessoas distintas. E significa que o Filho não é o Espírito Santo.
Geralmente usamos o termo grego hypostasis para indicar a distinção de Pessoas na Divindade. Os eruditos descrevem o termo como subsistência. Então, podemos dizer que há Três hypóstases em Deus, três diferentes modos, não de manifestação, como ensinava Sabélio, mas de existência ou de subsistência. Daí diz Calvino:
Então, com pessoa, quero dizer uma subsistência na essência divina – uma subsistência que, conquanto relacionada com as outras duas, distingue-se delas por suas propriedades incomunicáveis”.

Berkhof diz que “Isso é perfeitamente permissível e pode proteger-nos de entendimento errôneo, mas não deve levar-nos a perder de vista o fato de que as auto-distinções do Ser Divino implicam um “Eu” e “Tu” no Ser de Deus, que assumem relações pessoais uns com os outros (Cf. Mt 3.16; 4.1; Jo 1.18; 3.16; 5.20-22; 14.26; 16.13-15)” [22].






A essência tem três modos de subsistência.



Ainda que seja impossível fazermos um gráfico para apresentar esta verdade, todavia o demonstraremos.

02. Cada Pessoa é Plenamente Deus.
Além do fato de serem as três Pessoas distintas, as Escrituras também dão farto testemunho de que cada Pessoa é plenamente Deus.
A) DEUS PAI É PLENAMENTE DEUS (Jo 6.27).
Isso se evidencia desde o primeiro versículo da Bíblia, no qual Deus cria o céu e a terra. É evidente em todo o Antigo e no Novo Testamento, nos quais Deus Pai é retratado nitidamente como Senhor soberano de tudo e onde o Senhor Jesus ora ao Seu Pai celeste.
B) DEUS FILHO É PLENAMENTE DEUS (Hb 1.8; Jo 1.18).
Essa verdade será mais bem apresentada quando estudarmos a Doutrina de Cristo.
C) DEUS ESPÍRITO SANTO É PLENAMENTE DEUS (At 5.3,4).
Além disso, o Espírito Santo é também plenamente Deus. Uma vez que entendamos que Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em versículos como Mt 28.19 (“batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”) se revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho.
Mais detalhes será acrescido quando, oportunamente, dissertarmos sobre a Doutrina do Espírito Santo, ainda neste curso.

03. Só há um Deus.
As Escrituras deixam bem claro que só existe um único Deus. As três diferentes Pessoas da Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na Sua natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser. Não existem três Deuses. Só existe um Deus (cf. Ex 15.11; Dt 6.4; 1Rs 8.60; Is 45.5,6,21-22; cf. 44.6-8; 1Tm 2.5; Rm 3.30; 1Co 8.6; Tg 2.19).

04. As soluções simplistas necessariamente negam um dos ensinamentos bíblicos.
Agora temos três proposições, todas elas ensinadas nas Escrituras.
2) Cada Pessoa é plenamente Deus.
3) Há só um Deus.

4) Ênfase ortodoxa é quádrupla:
a) Unicidade (unidade) de natureza ou essência (AT = Dt 6.4; Is 6.3-8 e cf. Jo 12.41; NT = Jo 10.29,30; 14.9; 1Co 8.4-6; Ef 4.5,6).
b) Triunidade (diversidade) de Pessoas (AT = Gn 1.26; Is 48.16; 63.7-10; NT = Mt 28.19; 2Co 13.13/14; Rm 8.26,27,34).
c) Ordem funcional (papéis) ou obra – existe uma submissão voluntária e perfeita da Trindade sem inferioridade e essência (Jo 14.13-16; Mt 3.16; Lc 4.14-18; papel funcional do Filho = Sl 2.2 e veja também 1Co 10.1-4; papel funcional do Espírito Santo = Gn 1.2; 1Sm 16.13,14 e veja também Hb 3.7,8).
d) Eternidade de todas as Pessoas da Trindade (Pai = Hb 13.20; Filho = Jo 1.1,14,18; Espírito Santo = Hb 9.14)..

05. Todas as analogias têm falhas.
Se não podemos adotar nenhuma dessas soluções simplistas, então como juntar as três verdades bíblicas para assim sustentar a doutrina da Trindade? As pessoas já usaram várias analogias retiradas da natureza ou da experiência humana para tentar explicar essa doutrina. Embora tais analogias sejam úteis num nível elementar de compreensão, todas elas se revelam inadequadas ou ilusórias numa reflexão mais aprofundada. E é por isso, que não as relatamos aqui.

06. Deus existe eterna e necessariamente como Trindade.
Quando o universo foi criado, Deus Pai proferiu as potentes Palavras criadoras que o geraram; Deus Filho foi o agente divino que executou essas Palavras (Jo 1.3; 1Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2) e o Espírito Santo de Deus “pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). Então é como seria de esperar: se os três membros da Trindade são igual e plenamente divinos, então todos eles existiram desde a eternidade, e Deus sempre existiu eternamente como Trindade (cf. também Jo 17.5, 24).

A negação de qualquer uma dessas três proposições, como vimos acima, que resumem o ensino bíblico sempre gerou erros. Vejamos alguns destes erros:
1) O modalismo.
O nome é derivado de duas palavras gregas, mo/noj = mónos & a0rxh/ = archê, daí, “Um só Princípio”, “Um só Deus”. A heresia monarquianista modalista foi a mais influente do terceiro século[23].
Afirma que existe só uma única pessoa, que se revela para nós de três diferentes formas (ou “modos”). Em momentos distintos da história alguns pregaram que Deus não é de fato três Pessoas diferentes, mas uma única Pessoa que Se revela às pessoas de “modos” diversos em momentos diferentes. Por exemplo, o Deus do Antigo Testamento Se revelou como “Pai”. Nos Evangelhos, essa mesma pessoa divina Se revelou como “Filho”, na vida e no ministério de Jesus. Depois do Pentecostes, essa mesma pessoa então Se revelou como o “Espírito” ativo na igreja.
É de se destacar que o modalismo pode ser estendido em:
a) Sabelianismo.
Sabélio, presbítero de Ptolemaida (205), tendo ensinado em Roma por volta do ano 215[24], foi o principal proponente e defensor do monarquianismo modalista.
Esta forma de modalismo foi conhecida no Ocidente como Patripassianismo (Pater = pai; passio = sofrer: o Deus-Pai sofreu na cruz. Ou, o Pai Se encarnou e também sofreu), e no Oriente como Sabelianismo.
Para Sabélio não havia Trindade; Pai, Filho e Espírito Santo eram apenas nomes diferentes para a mesma realidade; desse modo, os Três eram apenas Pro/swpata = Prósõpata = semblantes, faces, e não pessoas diferentes.



 b) Monarquianismo modalista.
Este grupo defendia o monoteísmo restrito. Para eles distinguir, em Deus, pessoas diferentes na unidade da divindade, parecia-lhes admitir mais um deus. Desse modo, Jesus Cristo, por acreditarem em Sua divindade, seria um “segundo Deus” (gr. Dêuteros theós). Não lhes era possível essa afirmação de dois deuses. Portanto, se só há um só Deus, e se Jesus Cristo é Deus, então só pode ser aceito se este Jesus Cristo for o Pai – veja a confusão das Pessoas –, numa forma ou modalidade especial. Segundo eles, Jesus o Filho, não é uma Pessoa distinta do Pai – como afirmado do Credo de Atanásio –, mas a própria divindade, que, numa forma ou modalidade, é o próprio Pai e numa outra forma ou modo é o Filho. Assim, não foi o Filho como Pessoa distinta do Pai que encarnou, nasceu, sofreu, morreu e ressuscitou, mas o próprio Pai. Por essa razão, os defensores desta doutrina receberam o nome de modalistas e patripassianos (Pater = pai; passio = sofrer: o Deus-Pai sofreu na cruz) e ainda de hyopáteres (Hiós = filho: o Filho é o Pai).

2) O arianismo.
Nega a plena divindade do Filho e do Espírito Santo.
A) A CONTROVÉRSIA ARIANA.
O termo arianismo vem de Ário, bispo de Alexandria, cujas opiniões foram condenadas no Concílio de Nicéia em 325 d.C., e que morreu em 336 d.C.  Ário pregava que Deus Filho foi em dado momento criado por Deus Pai e que antes desse momento o Filho não existia, nem o Espírito Santo, mas somente o Pai. Assim, embora o Filho seja um Ser celeste anterior ao resto da criação e bem maior do que todo o resto da criação, Ele não Se iguala ao Pai em todos os Seus atributos — pode-se até dizer que é “igual ao Pai” ou “semelhante ao Pai” na sua natureza, mas não se pode dizer que é “da mesma natureza” do Pai.

3) Subordinacionismo.
Ao afirmar que o Filho era da mesma natureza (ou idêntica) do Pai, a igreja primitiva também excluiu outra falsa doutrina correlata: o subordinacionismo. Enquanto o arianismo sustentava que o Filho era criado e não divino, o subordinacionismo defendia que o Filho era eterno (não criado) e divino, mas ainda assim não igual ao Pai no Seu Ser e nos Seus atributos — o Filho era inferior ou “subordinado” no Seu Ser a Deus Pai. Orígenes (c. 185 – c. 254 d.C.), um dos pais da igreja primitiva, advogava uma forma de subordinacionismo ao sustentar que o Filho é inferior ao Pai no Seu Ser e que deriva eternamente o Seu Ser do Pai. Orígenes tentava proteger a distinção de pessoas e escrevia antes da formulação clara da doutrina da Trindade na igreja. O restante da igreja não o seguiu, mas claramente rejeitou o seu ensinamento no Concílio de Nicéia.

4) Adocianismo.
Uma doutrina correlata ao arianismo é a falsa doutrina do adocianismo. O “adocianismo” é a concepção de que o Senhor Jesus viveu como homem comum até Seu batismo, quando Deus o “adotou” como “Filho”, conferindo-Lhe poderes sobrenaturais. Os adocianistas não concordariam que Cristo existia antes de ter nascido como homem; portanto, não considerariam Cristo eterno, nem o enxergavam como o Ser sublime e sobrenatural criado por Deus, que era a crença dos arianos. Mesmo depois da “adoção” de Jesus como “Filho” de Deus, eles não o julgavam detentor de uma natureza divina, mas apenas um homem sublime que Deus chamava de “Filho” num sentido único.

5) A expressão filioque.
Ao lado do Credo de Nicéia, importa mencionar brevemente outro capítulo infeliz da história da igreja, a saber, a controvérsia sobre a inserção da expressão filioque no Credo de Nicéia, inserção que acabou gerando o cisma entre o cristianismo ocidental (católico romano) e o cristianismo oriental (composto hoje por várias ramificações dos ortodoxos orientais, como a Igreja Ortodoxa Grega, a Igreja Ortodoxa Russa, etc.) em 1054 d.C.
Filioque é uma expressão latina que significa “e do Filho”. Não foi incluída no Credo de Nicéia, nem na primeira versão de 325 d.C. nem na segunda, de 381 d.C. Essas versões diziam simplesmente que o Espírito Santo “procede do Pai”. Mas em 589 d.C., num concílio regional da igreja em Toledo (região que hoje faz parte da Espanha), acrescentou-se a frase “e do Filho”; assim, o credo então dizia que o Espírito Santo “procede do Pai e do Filho (filioque)”. À luz de João 15.26 e 16.7, onde Jesus disse que enviaria o Espírito Santo ao mundo, aparentemente não poderia haver objeção a tal frase se significasse que o Espírito Santo procedeu do Pai e do Filho num momento determinado (especialmente no Pentecostes). Mas trata-se de uma afirmação sobre a natureza da Trindade, e interpretou-se que a expressão falava de uma relação eterna entre o Espírito Santo e o Filho, algo que as Escrituras jamais abordam explicitamente. A forma do Credo de Nicéia que trazia essa expressão adicional gradualmente alcançou aceitação geral e recebeu endosso oficial em 1017 d.C. Toda a controvérsia complicou-se por conta da política[25] eclesiástica e da luta pelo poder dentro da igreja, e essa questão doutrinária aparentemente bem insignificante tornou-se o pomo de discórdia no cisma entre o cristianismo oriental e o ocidental em 1054 d.C. A controvérsia doutrinária e o cisma que gerou os dois ramos do cristianismo não foram solucionadas até hoje.

07. A importância da doutrina da Trindade.
Por que a Igreja tanto se ocupou da doutrina da Trindade? Será realmente essencial apegar-se à plena divindade do Filho e do Espírito Santo? Certamente sim, pois esse ensinamento traz implicações para o próprio cerne da fé cristã. (a) Em primeiro lugar, está em jogo a expiação. (b) Em segundo lugar, a justificação somente pela fé fica ameaçada se negamos a plena divindade do Filho. (c) Em terceiro lugar, se Jesus não é o Deus infinito, será que devemos nos dirigir a Ele em oração ou adorá-lo? Na verdade, se Jesus é meramente uma criatura, por maior que seja, seria idolatria adorá-Lo — e no entanto o Novo Testamento nos ordena fazê-lo (Fp 2.9-11; Ap 5.12-14). (d) Em quarto lugar, se alguém prega que Cristo foi um ser criado e, mesmo assim, nos salvou, então esse ensinamento atribui erroneamente o mérito da salvação a uma criatura, e não ao próprio Deus. (e) Em quinto lugar, a independência e a natureza pessoal de Deus estão em jogo: se a Trindade não existe, então não houve relacionamentos interpessoais dentro do Ser Divino antes da criação, e, sem relacionamentos pessoais, é difícil entender como Deus poderia Ser genuinamente Pessoal ou como não teria a necessidade da criação para com ela relacionar-Se. (f) Em sexto lugar, a unidade do universo está em jogo: se não há pluralidade perfeita e unidade perfeita no próprio Deus, então também não temos fundamento para pensar que possa existir alguma unidade última entre os diversos elementos do universo.

08. A falácia do triteísmo.
Uma última forma possível de tentar uma harmonização fácil do ensino bíblico sobre a Trindade seria negar que só existe um único Deus. O resultado é dizer que Deus são três pessoas, e cada pessoa, plenamente Deus. Portanto, existem três Deuses. Tecnicamente, essa concepção se denominaria “triteísmo”.
09. Quais as distinções entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo?
1) As Pessoas da Trindade têm funções primordiais diferentes em relação ao mundo.
Quando as Escrituras abordam o modo como Deus Se relaciona com o mundo, tanto na criação quanto na redenção, afirmam que as Pessoas da Trindade têm funções ou atividades primordiais diferentes. Isso já foi chamado de “economia da Trindade”, sendo o termo economia usado no sentido obsoleto de “ordenamento de atividades”.

2) As Pessoas da Trindade existem eternamente como o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Será que Deus Pai poderia ter vindo morrer pelos nossos pecados em lugar de Deus Filho? Será que o Espírito Santo poderia ter enviado o Deus Pai para morrer pelos nossos pecados, e depois enviar Deus Filho para realizar em nós a redenção?
Não, não parece possível que essas coisas pudessem ocorrer, pois o papel de comandar, dirigir e enviar é apropriado à posição do Pai, segundo a qual se molda toda paternidade humana (Ef 3.14-15). E o papel de obedecer, partindo quando o Pai o envia e revelando Deus a nós, é apropriado ao papel do Filho, que é chamado Verbo de Deus (cf. Jo 1.1-5, 14, 18; 17.4; Fp 2.5-11). Esses papéis não poderiam ter sido trocados, senão o Pai deixaria de Ser o Pai, e o Filho deixaria de Ser o Filho. E, por analogia com essa relação, podemos concluir que o papel do Espírito Santo é igualmente apropriado à relação que Ele já tinha com o Pai e o Filho antes que o mundo fosse criado. Essas relações são eternas, e não algo que ocorreu somente no tempo. Podemos deduzir isso primeiramente da imutabilidade de Deus: se Deus existe hoje como Pai, Filho e Espírito Santo, então Ele sempre existiu como Pai, Filho e Espírito Santo.

3) Qual a relação entre as três pessoas e o ser de Deus?
Primeiro, é importante afirmar que cada Pessoa é completa e plenamente Deus; ou seja, que cada Pessoa tem em Si a absoluta plenitude do Ser divino. O Filho não é parcialmente ou um só terço Deus, mas completamente Deus, o mesmo é verdade para o Pai e o Espírito Santo.
O Ser Divino não está dividido em três partes iguais pertencentes aos três membros da Trindade, como demonstra o gráfico abaixo.


Antes, a verdade prevalecente nas Escrituras Sagradas é que a Pessoa do Pai possui em Si todo o Ser de Deus e não um terço deste Ser. Para as Pessoas do Filho e do Espírito Santo esta verdade é real.
O Credo de Atanásio afirmava essa verdade nas seguintes frases:
E a Fé Católica é esta: que adoramos Um Só Deus em Trindade, e Trindade em Unidade; sem confundir as Pessoas nem dividir a Substância [Essência]. Pois existe a Pessoa do Pai; outra do Filho; e outra do Espírito Santo. Mas a Divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é Uma Só; igual é a Glória, a Majestade coeterna. Assim como o Pai é o Filho; e também assim o Espírito Santo. [...] Pois assim como nos vemos subjugados pela verdade cristã, reconhecendo cada Pessoa por Si como Deus e Senhor, também estamos proibidos pela Religião Católica de dizer: existem três Deuses, ou três Senhores”.

Afirmamos categoricamente que cada Pessoa da Santíssima Trindade é plenamente Deus e cada Pessoa tem todo o Ser Divino, e não apenas uma parte Dele.
Cada Pessoa da Trindade é distintas uma da outra. Mas devemos ter o cuidado de dizer que esta distinção é alguma espécie de atributos[26] acrescentados ao Ser Divino, como nos mostra o gráfico a seguir:



As distinções de Pessoas na Trindade não são algo acrescentado ao Verdadeiro Ser Divino.
Destacamos que as Três Pessoas da Trindade são Pessoas reais, e que não são apenas modos de enxergar o Ser único de Deus. Isso é a falsa doutrina do modalismo ou sabelianismo. Não podemos enxergar as Pessoas da Trindade como modos de manifestação do Ser de Deus. Veja o gráfico seguinte:


Devemos conceber a Trindade não como um Ser Divino dividido em três partes iguais, muito menos acréscimos a este Ser, mas um único Ser subsistente eternamente em Três Pessoas distintas. Transcrevo as perguntas e respostas de Oito a Onze do Catecismo Maior de Westminster[27]:
A) PERGUNTA 8. HÁ MAIS QUE UM DEUS?
Resposta: Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro (Dt 6.4; Jr 10.10; 1Co 8.4).
B) PERGUNTA 9. QUANTAS PESSOAS HÁ NA DIVINDADE?
Resposta: Há Três Pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; estas Três Pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas Suas propriedades pessoais (Mt 3.16-17; 28.19; 2Co 13.14; Jo 10.30).
C) PERGUNTA 10. QUAIS SÃO AS PROPRIEDADES PESSOAIS DAS TRÊS PESSOAS DA DIVINDADE?
Resposta: O Pai gerou o Filho, o Filho foi gerado pelo Pai, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde toda à eternidade (Hb 1.5-6; Jo 1.14; 15.26; Gl 4.6).
D) PERGUNTA 11. COMO PODEMOS SABER SE O FILHO E O ESPÍRITO SANTO SÃO DEUS, IGUAIS AO PAI?
Resposta: As Escrituras revelam que o Filho e o Espírito Santo são Deus igualmente com o Pai, atribuindo-Lhes os mesmos nomes, atributos, obras e culto que só a Deus pertencem (Jr 23.6; Is 6.3,5,8; Jo 12.41; At 28.25; 1Jo 5.20; Sl 45.6; At 5.3,4; Jo 1.1; Is 9.6; Jo 2.24;25; 1Co 2.10,11; Cl 1.16; Gn 1.2; Mt 28.19; 2Co 13.14).

4) Será que podemos compreender a doutrina da Trindade?
Os erros cometidos no passado devem-nos servir de alerta. Todos eles surgiram de tentativas de simplificar a doutrina da Trindade para torná-la completamente inteligível, removendo dela todo o mistério. Corremos risco de assim fazer. Porém, não é correto dizer que não podemos compreender nada da doutrina da Trindade. Certamente podemos compreender e saber que Deus é Três Pessoas, e que cada Pessoa é plenamente Deus, e que só há um Deus. Podemos saber essas coisas porque a Bíblia as ensina. Além disso, podemos saber algumas coisas acerca do modo como as Pessoas Se relacionam umas com as outras. Mas o que não podemos compreender plenamente é como encaixar esses diferentes ensinamentos bíblicos. Perguntamo-nos como pode haver Três Pessoas distintas, como cada Pessoa pode conter em Si a totalidade do Ser divino, e como, apesar disso, Deus é um Ser único e indiviso. Quanto a isso não somos capazes de compreender. De fato, nos é espiritualmente saudável reconhecer abertamente que o Ser divino em Si é tão imenso que jamais poderemos vir a compreendê-Lo. Isso nos humilha diante de Deus e leva-nos a adorá-Lo sem reservas.
Mas também é preciso dizer que as Escrituras não nos pedem que creiamos numa contradição. Contradição seria dizer: “só existe um único Deus e não existe um único Deus” ou “Deus é Três Pessoas e Deus não é Três Pessoas” ou mesmo (semelhante à afirmação precedente) “Deus é Três Pessoas e Deus é uma Pessoa”.
Como Deus em Si mesmo contém tanto a unidade quanto a diversidade, não é de admirar que unidade e diversidade também se reflitam nas relações humanas que Ele firmou. Percebemos isso inicialmente no casamento. Quando Deus criou o homem à sua própria imagem, não criou meros indivíduos isolados, mas diz-nos a Bíblia: “homem e mulher os criou” (Gn 1.27). E na unidade do casamento (ver Gn 2.24) percebemos não uma triunidade como em Deus, mas pelo menos uma notável unidade de duas pessoas, pessoas que permanecem indivíduos distintos, porém se tornam um só em corpo, mente e espírito (cf. 1Co 6.16-20; Ef 5.31).



Soli Deo Gloria!


[1] Lewis Sperry Chafer em Teologia Sistemática Volumes Um e Dois – Editora Hagnos.
[2] Confira a incapacidade do homem, por si só, de conhecer a Deus em Rm 3.9-18. Para mais detalhes reporte-se a pág. 3 de Introdução à Bíblia no item: 2. Somos pecadores e nota quatro.
[3] Em O Conhecimento de Deus – Editora Mundo Cristão.
[4] Consulte Henry Clarence Thiessen em Palestras em Teologia Sistemática – Editora Batista Regular – para maiores detalhes.
[5] Ralph L. Smith em Teologia do Antigo Testamento – História, Método e Mensagem – Edições Vida Nova. Excelente livro na Área bíblico-teológica.
[6] Ralph L. Smith em Teologia do Antigo Testamento – História, Método e Mensagem – Edições Vida Nova. Excelente livro na Área bíblico-teológica.
[7] Em Teologia Sistemática – Editora Cultura Cristã.
[8] Ou os compostos.
[9] Antropomórfico vem de duas palavras gregas: a1nqrwpoj: anthrõpos, “homem”, e morfh/: morphê, “forma”. Uma descrição antropomórfica de Deus descreve-O em formas ou termos humanos.
[10] R. N. Champlim em Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia – Vol. 1: A – C = Editora Hagnos.
[11] Veja acima a definição de acidentes e o contraste que fizemos com o termo atributo.
[12] Os atributos são distintos um dos outros. Por exemplo: O amor não é o conhecimento; o conhecimento não é a sabedoria; a onipotência não é a onisciência, mas não são distintos da Essência Divina. Ou seja, os atributos são distintos um dos outros, mas não distintos do Ser Divino. Eles são intrínsecos ao Ser de Deus.
[13] Os atributos nunca foram acrescentados a Deus. E não são partes que compõem o Ser de Deus. Deus não é um composto de atributos ou qualidades.
[14] Deus Se torna conhecido pelos Seus atributos. Deus revela-Se as Suas criaturas manifestando-lhes Suas perfeições.
[15] Augustus Hopkins Strong em Teologia Sistemática – Vol. 1 – Editora Hagnos.
[16] Wayne Grudem em Teologia Sistemática – Edições Vida Nova.
[17] Confira mais detalhes em Wayne Grudem em Teologia Sistemática – Editara Vida Nova.
[18] Archibald Alexander Hodge em Esboços de Teologia – Editora PES.
[19] Em Esboços de Teologia – Editora PES.
[20] S.f. 1. Qualidade do que é contingente. 2. Fato possível, mas incerto. 3. Eventualidade.
[21] O termo hebraico é MydIy(i dgeb@e = Béged ydyim = “trapo imundo”, “pano sujo”.
[22] Em Teologia Sistemática – Editora Cultura Cristã.
[23] Cf. Louis Berkhof em História das Doutrinas Cristãs – Editora PES.  Bem como J. N. D. Kelly em Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e Desenvolvimento – Editora Vida Nova.
[24] Segundo informações de Roque Frangiotti, em Histórias das Heresias (Séculos I–VII): Conflitos Ideológicos Dentro do Cristianismo – Editora Paulus, Sabélio chegou a Roma por volta de 217 a.D., e conquistou a amizade e a confiança do papa Calisto, que, mais tarde, o excomungou.
[25] A questão política subjacente, porém, era a relação da igreja oriental com a autoridade do papa.
[26] Cada Pessoa da Trindade tem todos os Atributos de Deus, e nenhuma das Pessoas tem algum atributo que não seja também possuído pelas outras. Para mais detalhes veja O Caráter de Deus e Seus Atributos.
[27] A Confissão de Fé; O Catecismo Maior e O Breve Catecismo – Edição em um único volume – Casa Editora Presbiteriana – Primeira Edição Especial: 1991.