ERA OU NÃO ERA SAMUEL ?

SAUL E A MÉDIUM DE EN-DOR

8 - E Saul se disfarçou e vestiu outros vestidos, e foi ele e com ele dois homens, e de noite vieram à mulher; e disse: Peço-{te} que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser.
9 - Então a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores: por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazer matar?
10 - Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso.
28.8-10



Por diversas vezes tenho me deparado com servos do Senhor que, confusos com o texto bíblico de ISm. 28: 8-10, me perguntam se era realmente Samuel, uma vez que o próprio texto cita o profeta Samuel se manifestado naquela sessão espírita na cidade de  Em Dor.  Por isso resolvi reproduzir aqui parte da resposta que geralmente dou aos meus inquiridores.

Em primeiro lugar, devemos entender que existe a vontade revelada e a vontade oculta de Deus. O que entendemos por vontade revelada, é tudo que o que o Senhor já manifestou, ou nos comunicou de alguma maneira. Já a vontade oculta do Senhor permanece um mistério para nós, até o dia que ele resolver nos revelar. Dito isso, observemos todas as nuances que envolvia o contexto histórico do ocorrido.

Deus estabeleceu meios legais pelos quais Ele próprio revelaria seus planos, desejos e aprovação sobre determinado ponto. Assim era possível conhecer a vontade do Senhor através :

Dos sonhos: Gn.31.24; 37.5; Nm. 12.6 Dn. 2.1; Mt. 1.20; 27.19
Dos profetas: Dt. 18.15; Jz.6.8;
Das pedras Urim e Tumim: Êx. 28. 30; Lv. 8.8

Esses eram, podemos dizer, os meios legais pelos quais Deus revelava sua vontade, ou confirmação. Por exemplo: Se o rei desejasse ir à guerra, e pedia a confirmação de Deus. Este lhe respondia por meio de sonhos, profetas ou Urim e Tumim.

O profeta Isaias repreende a nação de ouvir conselhos sobre consulta a mortos "Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?"Is. 8.19.

O povos que habitavam na terra que o Senhor Deus aos filhos de Israel, eram superticiosos, e usavam de praticas reprováveis, Razão pela qual Deus proibiu que os judeus se misturassem com eles e aprendessem suas praticas.

No reinado de Saul, Deus falou ao profeta Samuel que fossem desterrados todos os necromantes, feticeiros,  bruxos  e adivinhos (1° Sm. 28.3 ). O próprio Saul se encarregou de executar a ordem divina (1° Sm. 28.9). Essa pratica era abominada por Deus que deu ordem ao povo de Israel  que não se voltassem para tais praticas que eram comum nas terras para onde iam (Dt. 18.9-14; Lv. 19.31; 20.6,27).

Após a morte do profeta Samuel, Saul precisava de uma resposta de Deus sobre sua participação na próxima batalha. Mas Deus não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por profetas, e tampouco pelo Urim e Tumim (1° Sm. 28.6). Ou seja, Deus não lhe respondeu pelos meios legais que ele próprio havia estabelecido, por isso o rei Saul, movido mais pela ansiedade do que pela piedade,  apelou para os meios ilegais e abomináveis aos olhos de Deus. Procurou uma necromante para buscar resposta por dos lábios de quem sempre lhe orientou o profeta Samuel (mas este servo do Senhor já estava morto).    
  
Na sessão, subiu um ser que,(segundo a pitoniza) possuía a aparência de um deus envolta numa capa, a quem Saul entende ser Samuel.

Era ou não era Samuel ?

Aqui muitos servos do Senhor ficam sem respostas. No entanto, não é necessário um estudo aprofundado do texto para saber que não era o profeta Samuel naquela sessão espírita, basta observar o contexto que envolve a cena. Vamos a alguns pontos:

1.       Deus não respondeu a Saul pelos meios legais estabelecidos por Ele próprio (sonhos, profetas, Urim e Tumim), Como permitiria seu servo Samuel participar de uma sessão que Ele próprio  abominava?  Seria no mínimo incoerente da parte de Deus permitir que seu servo tomasse parte em uma sessão que ele próprio proibiu.

2.       Se Samuel foi impelido a participar daquela sessão à revelia da vontade divina, logo a pitonisa era  mais poderosa do que Deus, visto obrigar um servo do Senhor que já estava na gloria, voltar e participar de sua sessão espírita condenada pelo Senhor. Observe que o suposto espírito de Samuel se manifesta revoltado. vs.15

3.       Saul não viu o ser que se manifestou na sessão, somente a pitonisa viu e comunicou seu aspecto e aparência (Saul entendeu que era Samuel  1° Sm. 28.14). Em vida, Samuel era o maior profeta daquela região, todos o conheciam. Não era difícil enganar Saul (uma vez que ele próprio não viu o tal espírito).

4.       Quando Samuel falava que algo aconteceria, de fato acontecia. Houve divergência entre o que a pitonisa dizia e o que aconteceu depois.

Tu e teus filhos estaries comigo. Ou seja, entre os mortos (Vs. 19) Saul de fato perdeu a guerra, não foi morto pelos seus inimigos, mas, cometeu suicídio.

Tú e teus filhos estareis comigo: No entanto algum tempo depois aparece Is-Bosete filho de Saul assumindo o  trono de Israel na época em que Davi já reinava sobre Judá: "Da idade de quarenta anos era Is-Bosete, filho de Saul, quando começou a reinar sobre Israel, e reinou dois anos; mas os da casa de Judá seguiam a Davi". IISm. 2.10

A grande pergunta é, porque tal pratica permanece até hoje? Seriam os praticantes apenas charlatões se auto-declarando  detentores de  dons que lhes confere a habilidade de manter contato com algo sobrenatural, ou de fato eles tem essa habilidade ? Espíritos enganadores exercem influencia sobre seres humanos que se interessam em dar-lhes ouvidos e aprender suas praticas.


Mas o Espírito (de Deus) expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão de fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios
ITm. 4.1

Particularmente não duvido de tal possibilidade de contato com o transcendental e espiritual (se há proibição da pratica, supostamente há possibilidade de contato).Isso não significa porém, que os seres manifestos sejam de fato, entes queridos mortos ou alguma pessoa que partiu que se manifesta com mensagem do além.

Minha opinião particular, em concordância com as Santas Escrituras é que, tais espíritos sejam espíritos de engano que se  aproveitam de tal abertura para interagir com os seres humanos (2°Tss. 2.9-11).  Manipular seus planos e exercer domínio sobre eles.  

O que se pode concluir com base nos fatos bíblicos é que NÃO ERA SAMUEL  naquela sessão espírita. Mais provavelmente fosse um espírito de engano que se manifestou para confundir Saul. Ou até pode não ter sido ninguém, pois Saul não viu coisa alguma, apenas a pitonisa fala ter visto, e as palavras que se seguiram do “suposto Samuel”, poderia até ser criação da própria necromante no afã de ludibriar Saul,  visto Samuel não falar de si mesmo (mas de Deus) quando consultado em vida. 

No capitulo 10 do Primeiro livro das Crônicas, relata a morte de Saul e a sua transgressão contra o Senhor.

Assim morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, 
por causa da palavra do Senhor, que ele não guardara; 
e Também porque interrogara e consultara uma necromante. 
1° Crônicas 10.13